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Conselho do HSCC renuncia em massa enquanto hospital enfrenta leilão de imóvel e auditoria judicial

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Renúncia em efeito cascata, leilão de patrimônio e disputas políticas aprofundam a crise no único hospital de Canoinhas.

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O Hospital Santa Cruz de Canoinhas (HSCC), única unidade hospitalar da cidade credenciada pelo SUS, enfrenta uma turbulência sem precedentes em sua história. Na sexta-feira (27), membros do Conselho Deliberativo e parte do Conselho Fiscal apresentaram renúncia coletiva, deixando apenas três conselheiros deliberativos e um fiscal em atividade.

A debandada total dos órgãos gestores deixa a atual Diretoria, presidida por Norma Peterman Pereira, em uma situação de urgência e mistério.

Renúncia em massa: Um enigma

Uma fonte ligada ao Conselho, ouvida pela reportagem do Canoinhas Online sob condição de anonimato, relatou que a crise começou na quinta-feira (25), quando o vice-presidente do Conselho Deliberativo, Gilberto Müller da Silva, apresentou pedido de renúncia por motivos pessoais. No dia seguinte, em efeito cascata, o cenário se transformou em uma crise: sete pedidos de renúncia simultâneos foram protocolados.

“Todos continuam sócios do hospital, mas não fazem mais parte dos conselhos”, relatou a fonte.

O abandono coletivo ocorreu dois dias depois de uma assembleia extraordinária para prestação de contas fiscais do Hospital do ano de 2023 – 2024, realizada na quarta-feira (24). A reunião, segundo o relato, foi tranquila e sem conflitos aparentes. O mistério sobre as razões reais da renúncia coletiva só aumenta a sensação de instabilidade dentro do hospital.

“Até então, nunca tinha acontecido renúncias, pedidos de renúncias de membros do Conselho Fiscal e Deliberativo simultaneamente,” afirmou a fonte, que ressaltou que com apenas três conselheiros deliberativos e um fiscal restantes, a situação é de dissolução total dos Conselhos.

Leilão de imóvel e dívidas

Em paralelo à crise política interna, a reportagem teve acesso a um edital de leilão público eletrônico que atinge diretamente o patrimônio da instituição filantrópica.

Um terreno urbano e edificação pertencente ao Hospital, localizado na Rua Gil Costa, em Canoinhas, foi avaliado em R$ 2.6 milhões e será leiloado em outubro. A penhora é decorrente de dívidas que totalizam R$ 455.705,74 (atualizadas em setembro/2025) e beneficiam credores como a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) e a União – Fazenda Nacional.

A fonte do Conselho acredita que a(s) renúncia(s) não está ligada ao leilão, mas confirmou que o hospital já está impetrando um recurso na área jurídica para tentar reverter a situação.

Histórico de crises agrava a situação

A crise de gestão e governança no HSCC não é recente e a renúncia do Conselho Deliberativo ocorre em um momento em que a instituição já enfrenta forte pressão externa e interna:

1. Auditoria Judicial e relação tensa com a Prefeitura: Uma decisão judicial recente obrigou o Hospital a permitir a realização de uma auditoria externa contratada pela Prefeitura de Canoinhas, a qual afirma enfrentar dificuldades para fiscalizar a unidade de saúde. 

O Município, que alega falhas de gestão, descumprimento contratual e irregularidades, moveu a ação após o hospital supostamente impor restrições à fiscalização e ao acesso a documentos.

A Prefeitura também reclama da falta de prestação de contas por parte da unidade, que é a única em funcionamento na cidade e integra a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Auditorias anteriores já apontavam problemas, incluindo ações judiciais por supostos erros médicos, somando mais de R$ 1 milhão em pedidos de indenização.

A auditoria também vai revelar a aplicação dos recursos que são repassados à unidade por meio da prefeitura de Canoinhas (cerca de R$ 1 milhão/mês) já que a maior parte dos atendimentos realizados na unidade é SUS. 

2. Troca de chapa e disputa interna: Em abril deste ano, o hospital viveu um embate político com a formação de uma chapa concorrente à da atual presidente, Norma Pereira, para a indicação do novo conselho diretor. A chapa de oposição, liderada pela advogada Flávia Sussembach, era apoiada pela Prefeitura.

3. O “Caso das Vacinas”: Em julho, o Hospital foi alvo de manchetes nacionais após um erro grave: a aplicação de soro antibotrópico (antídoto para picada de cobra) no lugar de vacinas de rotina em 11 recém-nascidos.

A direção justificou que o erro ocorreu devido à falha humana. Conforme o hospital, os rótulos de ambos os medicamentos são parecidos, do mesmo laboratório, e o soro teria sido colocado em um local indevido. O hospital confirmou a abertura de um inquérito interno.

O que vem pela frente?

Com a renúncia coletiva, a atual diretoria deve convocar uma nova assembleia para eleição de conselheiros. Pelo estatuto, apenas sócios com mais de 30 dias de vínculo podem concorrer.

A expectativa é de que a movimentação ocorra nos próximos dias, em meio à pressão judicial, à ameaça de perda de patrimônio e ao desgaste da imagem pública do hospital.

Apesar das polêmicas e da crise administrativa, é imprescindível lembrar que o Hospital Santa Cruz continua sendo a única unidade hospitalar de Canoinhas e referência para toda a região, o que torna sua estabilidade fundamental. Mais do que nunca, o que está em jogo não é apenas a política interna da instituição, mas sim o acesso da população a serviços de saúde — algo que depende diretamente de uma gestão eficiente e transparente.

Enquanto isso, a população canoinhense assiste, apreensiva, à instabilidade de sua única unidade hospitalar em funcionamento, que acumula dívidas, disputas políticas, erros médicos e agora uma inédita dissolução de seus órgãos gestores.

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