“A mesma faca que o réu usou pela manhã para abater um porco foi a que, à tarde, ele empunhou contra três pessoas. Não foi apenas uma vida ceifada, mas o futuro de uma família inteira. A esposa da vítima fatal estava grávida – um filho que o pai nunca chegou a conhecer. O casal já tinha outro bebê, com pouco mais de um ano, na época do crime, que também perdeu o seu genitor.”
A fala é do Promotor de Justiça Lucas Carvalho Mattiola durante a sustentação de acusação que resultou na condenação de Valdir Siqueira, ex-vereador de Dona Emma, no Vale do Itajaí, por homicídio qualificado contra o empresário Luciano Mafassoli, e duas tentativas de homicídio.
O ataque, motivado por divergência política, aconteceu em novembro de 2022 em um bar no centro da cidade.
O julgamento durou 15 horas e ocorreu nessa quinta-feira (11) na cidade vizinha de Presidente Getúlio. O resultado foi divulgado nesta sexta (12) pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que fez a denúncia contra o réu.
Valdir Siqueira foi condenado a uma pena de 29 anos, 6 meses e 20 dias em regime inicial fechado e saiu do plenário preso.
Foragido até o dia do julgamento
Mesmo denunciado pelo MPSC em 2022, o homem nunca havia sido localizado e permaneceu foragido até a data do julgamento. À época vereador de Dona Emma, ele perdeu o mandato por faltas injustificadas às sessões da Câmara Municipal.
“Um homem que trabalhava com leis deveria saber que, se fosse realmente inocente como afirmava, teria meios para provar sua inocência. No entanto, optou por ficar foragido por quase três anos”, destacou o Promotor de Justiça.
O assassinato ocorreu em 5 de novembro de 2022. De acordo com a denúncia, tudo começou após um aposta de R$ 5 mil feita entre Siqueira e o empresário sobre o resultado das eleições presidenciais.
Segundo a delegada plantonista Elisabete da Cruz Prado, três amigos participavam de um churrasco no bar, quando o vereador do MDB, que teria trabalhado na campanha de Lula (PT) chegou ao estabelecimento e pediu uma cerveja. Após beber, Siqueira foi em direção aos três homens para cumprimentá-los.
“[Neste momento] iniciou uma discussão, e depois agressões, entre o autor [Valdir Siqueira) e a vítima fatal”, diz a delegada. Segundo a investigação, o empresário havia apostado que Jair Bolsonaro (PL) seria reeleito.
A confusão começou dentro do estabelecimento e continuou ao lado de fora, onde seguiram se agredindo. “O autor foi até o carro dele, pegou uma faca que estava sobre o banco e esfaqueou os três, segundo testemunhas”, descreveu a delegada.
“Um desentendimento político jamais pode justificar a violência. Essa condenação mostra que a sociedade não tolera crimes motivados por ódio, e que o Ministério Público seguirá firme na defesa da vida e da democracia”, finalizou o Promotor Lucas Carvalho Mattiola, que conduziu a acusação no Júri.