O mundo oculto por trás das grades: o raio-X do sistema prisional em Santa Catarina
Dados recentes divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Reintegração Social (Sejuri) traçam um retrato detalhado da população carcerária de Santa Catarina.
Segundo o levantamento, o perfil predominante dos apenados no estado é de um homem branco, solteiro, com idade entre 21 e 30 anos, católico e com ensino fundamental incompleto. A maioria está presa por envolvimento com tráfico de drogas, roubo, furto ou homicídio.
Atualmente, o sistema prisional catarinense abriga 28.858 mil detentos distribuídos em 54 unidades prisionais.
Esse número supera a população de 141 dos 295 municípios do estado e, se fosse uma cidade, ocuparia a 54ª posição no ranking populacional.
Crimes mais comuns e preocupações com organizações criminosas
Mais da metade dos apenados foram condenados por apenas oito tipos de crime. O tráfico de drogas e a associação para o tráfico lideram a lista (18,3%), seguidos por roubo (9,62%), furto (7,18%), homicídio (6,53%), estupro (3,56%), receptação (3,11%) e participação em organizações criminosas (2,9%).
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Para o juiz Rafael de Araújo Rios Schmitt, coordenador do Grupo de Monitoramento e Fiscalização dos Sistemas Prisional e Socioeducativo (GMF) do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, os dados seguem o padrão nacional.
“O perfil mais comum no país é de homem jovem, entre 18 e 30 anos, com baixa escolaridade e oriundo de contextos vulneráveis”, afirma.
O magistrado também destaca a preocupação com o crescimento das facções criminosas e a importância de medidas para combatê-las. Como exemplo, cita a criação da Vara Estadual de Organizações Criminosas no estado.
Diversidade de origens e presença estrangeira
A população prisional catarinense inclui pessoas de 23 nacionalidades, além de brasileiros de 25 unidades da federação — apenas Tocantins e Roraima não têm representantes. Entre os estrangeiros, os venezuelanos lideram, seguidos por paraguaios, argentinos, uruguaios e haitianos. Apesar da diversidade, eles representam menos de 0,7% dos presos.
Casos envolvendo estrangeiros costumam ser específicos, como explica o juiz Schmitt: “São situações casuísticas, com presos que nem cometeram crime no Brasil e aguardam extradição. Há casos até relacionados a crimes tributários”.
Idade, raça e escolaridade
A maioria dos detentos está na faixa etária de 18 a 40 anos (69,8%), com destaque para o grupo entre 21 e 30 anos (35,9%). Na divisão racial, brancos são maioria (58,9%), seguidos por pardos (30,6%), pretos (8,4%), amarelos (1,5%) e indígenas (0,6%).
A escolaridade é um ponto crítico: 38,09% têm ensino fundamental incompleto, e 92% dos apenados não passaram do ensino médio.
Apenas 4,79% possuem ensino superior completo ou incompleto. Não há registro de nenhum detento com doutorado. Ainda, 2,79% são analfabetos ou semianalfabetos.
Estado civil e religião
O levantamento mostra que 57,6% dos apenados são solteiros. Outros 24% vivem em união estável, enquanto 12,1% são casados. Há também registros de separados, divorciados, viúvos e até desquitados — categoria já extinta legalmente.
Quanto à religião, 46,2% se identificam como católicos, 23% como evangélicos. As demais crenças (afro-brasileiras, protestantes, espíritas, budistas, entre outras) somam 3,9%. Um quarto da população carcerária (26,9%) não segue nenhuma religião ou não informou.
Alta taxa de encarceramento exige atenção
Santa Catarina é o 10º estado mais populoso do Brasil, mas possui a 7ª maior população carcerária do país — um indicativo de que a taxa de encarceramento é proporcionalmente alta. O juiz Rafael Rios alerta para a necessidade de estudo aprofundado das políticas criminais estaduais para avaliar a efetividade e justiça do uso do encarceramento.
O presidente do GMF, desembargador Roberto Lucas Pacheco, destaca que os dados reforçam a urgência de investir em educação e oportunidades.
“Estamos lidando com uma população carcerária jovem, com baixa escolaridade e marcada pela vulnerabilidade. Isso facilita o aliciamento por facções. A resposta precisa ser firme, mas também inteligente e preventiva, com foco na reintegração social”, conclui.