O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (7), que pode tomar medidas “mais drásticas” para baixar o custo dos alimentos aos consumidores e culpou os “atravessadores” pelo alta do preço dos ovos no país.
Entretanto, Lula não explicou que medidas seriam essas, ao falar sobre o assunto durante evento em Campo do Meio, Minas Gerais, onde entregou mais de 12 mil lotes de terra da reforma agrária para famílias de 138 assentamentos.
“Eu quero encontrar uma explicação para o preço do ovo”, disse. “O ovo está saindo do controle. Uns dizem que é o calor, outros dizem que é exportação e eu estou atrás [da explicação]”, acrescentou Lula.
O presidente diz que o governo quer encontrar uma solução pacífica, “mas se a gente não encontrar, a gente vai ter que tomar atitudes mais drásticas, porque o que interessa é levar a comida barata para mesa do povo brasileiro”, afirmou, sem contudo sem dar detalhes.
Ontem (6), o governo federal anunciou que tarifas de importação para alguns produtos serão zeradas com o intuito de reduzir preços.
Os alimentos que terão os tributos zerados são:
- Açúcar
- Azeite
- Milho
- Óleo de girassol
- Sardinha
- Biscoitos
- Massas alimentícias (macarrão)
- Café
- Carnes
No comércio internacional, o Brasil é um grande fornecedor da maioria dos itens listados pelo governo para o resto do mundo, explica Felippe Serigati, economista e pesquisador do FGV Agro.
“Isso vale para o café, para o açúcar, para a carne bovina, para a carne de frango. Então, você vai buscar esse produto de onde, se o mundo tá vindo aqui no Brasil buscar esses produtos?”, pontua.
Para economistas, a medidas anunciadas devem ter pouco impacto na inflação do Brasil, principalmente para a população de baixa renda. Entre os motivos para isso, estão:
- o fato de que muitos dos alimentos acompanham os preços internacionais;
- os efeitos das quebras de safra em outros países nos preços dos produtos;
- a baixa relevância de alguns dos itens listados pelo governo na composição do IPCA, índice considerado a inflação oficial do país; e
- a baixa concentração dos produtos importados no mercado interno, o que limita o efeito das tarifas reduzidas.
- Maioria dos produtos com tarifa zero não são importados
Poucos itens que tiveram a alíquota zerada pelo governo federal têm importância relevante para o IPCA, destaca o economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). É o caso da carne, do café, do açúcar e das massas (macarrão).
“A carne é o mais importante. Pesa mais no IPCA. Quase 3% da renda das famílias é comprometida com a compra do produto”, diz.
Já os demais itens citados na lista do governo não devem ter grande impacto no índice de preços, alerta o economista. Ele cita como exemplo o azeite — que, apesar do preço elevado, não é um produto da cesta básica — e a sardinha, que não é contabilizada dentro do IPCA.
“Mesmo que as medidas anunciadas não tenham, em termos econômicos, o resultado esperado [de reduzir o preço dos alimentos], pelo menos tá tentando criar a sensação de que o governo tá fazendo alguma coisa”, diz o pesquisador.